Como melhorar a experiência de treinamentos remotos.

Como melhorar a experiência de treinamentos remotos.

Como melhorar a experiência de treinamentos remotos

 

 

A essas alturas já percebemos que a pandemia e a quarentena impactaram radicalmente nossas rotinas em diversos aspectos. O que começou sendo uma adaptação pontual e temporária, acabou por gerar mudanças (inclusive para melhor) em muitos processos e práticas em N áreas das nossas vidas. A educação e os treinamentos remotos são um desses exemplos onde muita coisa precisou ser repensada e adaptada na transposição do presencial para o online. O post de hoje levanta algumas reflexões utilizando a lente do user experience design aplicado ao treinamento remoto e discute como melhorar a experiência de treinamentos remotos.

Organizando a informação para potencializar o aprendizado

Um ponto que precisamos levar em consideração quando estamos falando de “experiência de aprendizagem” – que vale para qualquer abordagem centrada no usuário – é a visão holística e entendimento das partes que compõem o todo em cada situação.

Se entendermos que quase qualquer coisa pode ser ensinada ou transmitida de uma pessoa pra outra, a escolha da abordagem, dos métodos, da linguagem e dos canais utilizados na busca do melhor resultado possível sempre vai depender de um bom entendimento das variáveis e elementos evolvidos nessa equação.

Uma das definições sobre a “arquitetura da informação” (a parte do processo de UX onde organizamos o conteúdo para facilitar o entendimento e usabilidade) é representada por um diagrama de Venn que engloba USUÁRIO + CONTEÚDO + CONTEXTO.

Dificilmente podemos falar de educação sem prestar atenção em como estruturamos a informação que será transformada em conhecimento, por isso a conexão entre EAD e arquitetura da informação se encaixam tão bem na minha visão.

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Usuário + Conteúdo + Contexto

Para exemplificar as percepções práticas sobre esses aspectos, compartilho as três frentes onde tenho vivenciado e analisado de perto o treinamento remoto ao vivo, analisando o ponto de vista dos dois lados: facilitadores e alunos.

  • (A) Workshops livres (treinamento pontual)
  • (B) Disciplinas de pós graduação (treinamento longo)
  • (C) Aulas de arte marcial chinesa (treinamento físico)

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Para cada um dos treinamento acima os objetivos, expectativas e anseios envolvidas são diferentes. Não necessariamente a experiência ideal em um será igual a do outro. Vamos entender porque.

1. Analisando o “contexto”

Uma parte relevante para se perceber na esfera do contexto é a motivação e o gatilho que levou aquele indivíduo até aquele treinamento. Fora isso, entender o entorno físico-digital desse aluno/participante também é um importante elemento chave na equação da uma boa experiência remota já que pode trazer mais clareza sobre as barreiras e limitações que precisarão ser trabalhadas para um melhor resultado.

As pessoas em um treinamentos livre de aprendizagem pontual em um workshop (A), por exemplo, geralmente querem o máximo de conhecimento no menor tempo possível. Nesse tipo de curso muitas vezes os participantes querem também ampliar suas redes de contato, já que nossas opções de networking estão bastante limitadas nesse momento de isolamento.

Enquanto no cenário de aprendizagem de longa duração de uma pós graduação EAD (B) um tiro curto e intensivo pode ser cansativo, afinal os alunos já vem ou passarão por uma jornada longa e aprofundada em várias disciplinas. Nessa situação as pessoas já se conhecem e o conteúdo de cada disciplina precisa se conectar com algo maior.

Quando falamos de um treinamento físico com atividades práticas (C) podemos ter algumas motivações envolvidas como a necessidade de praticar um exercício por si só ou a busca de uma evolução técnica. Essa modalidade demanda instruções específicas direcionadas à posturas ou movimentos. Aqui um dos desafios é alcançar a assertividade apesar da distância e dificuldades de visualização em detalhes ou correções precisas.

As pessoas que realizam treinamentos no conforto de suas casas inevitavelmente vivenciam um cenário bastante diferente de estar imerso no contexto presencial onde você passa automaticamente por uma troca de mindset ao adentrar fisicamente “no clima” da aula. Pensar na experiência remota requer entender que muitas vezes várias “coisas caseiras” estarão acontecendo ao mesmo tempo que a aula. As distrações, os hábitos, os chamados de coisas mais interessantes para prestar atenção, tudo compete com o seu conteúdo.

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2. Entendendo o “usuário”

Quando falamos de user experience design necessariamente temos a forte presença do elemento humano no centro do processo. O UX aplicado ao ensino a distância não é diferente, para qualquer que seja o cenário, vale se perguntar:

  • Quem são os participantes do meu curso? (nativos digitais, geração Z…)
  • Que perfil comportamental possuem? (mais agitados, mais maduros…)
  • Qual o grau de familiaridade eles possuem com tecnologias? (heavy users, low tech…)
  • Estão acostumados ao contato online? (trabalham no computador, já fazem reuniões online..)
  • Que tipo de ferramentas digitais estão costumados a usar? (whats, zoom, tiktok..)

Tentar se aproximar de como os participantes pensam, sentem e ao que estão acostumados é sempre útil para adequar a linguagem e abordagem a algo mais efetivo. Conhecendo o lado comportamental do público alvo é possível idealizar melhor o timing e dinâmica dos conteúdos x atividades.

Nesse momento a definição de uma persona representando as características da sua audiência pode ajudar nessa aproximação e direcionamento. Sempre prepare sua aula / treinamento pensando em quem é o seu aluno, como ele pensa, de que forma vê o mundo e qual é a melhor forma de se conectar com ele.

Um livro excepcional que recomendo muito a leitura, da Susan Weinschenk, é o “100 coisas que todo apresentador deveria saber sobre pessoas” que traz vários conceitos interessantíssimos sobre a psicologia comportamental aplicado à apresentações, aulas e palestras.

3. Delimitando o “conteúdo”

O conteúdo ministrado ao vivo nem sempre se encaixará muito bem no online. Do ponto de vista do facilitador, aquela dose de improviso e adequação ao vivo pode ficar comprometida no online porque quando estamos ao vivo conseguimos facilmente ler a expressão das pessoas. O gesto de concordar com a cabeça quando algo está fazendo sentido, o próprio grau de atenção ou então a conferida nas novidades do celular ou um bocejo que indica cansaço ou uma baixa do interesse. Quando temos acesso a essa leitura corporal olho no olho, em tempo real, conseguimos acelerar a fala, mudar o ritmo da conversa ou instigar a participação de acordo com os feedbacks não verbais da audiência, que acontecem a toda hora. Parte do conteúdo compartilhado pode ser reativo e maleável.

No treinamento remoto o cenário para o facilitador e para os alunos mudam. É comum que parte das pessoas não queiram abrir suas câmeras ou microfones, nesse caso a leitura dinâmica das reações cai por terra.

Outro ponto é a sobrecarga cognitiva que demonstra que quando estamos em atividades que requerem a atenção integral hiperfocada no conteúdo da tela, tendemos a nos cansar muito mais rápido do que quando absorvemos esse mesmo conteúdo ao vivo. E diferente da educação à distância gravada, o “ao vivo” não permite que o aluno pause e retorne trabalhando no seu próprio timing, então quando o conteúdo é uma enxurrada de informação linear, sem pausa, sem contraste, sem respiro, certamente teremos cérebros fritando para dar conta de absorver tudo de forma massante e cansativa.

Por esses motivos faz sentido trabalhar com conteúdos teóricos mais objetivos e compactos E/OU fazer quebras frequentes com discussões ou práticas. O mindset do “Project Based Learning“(pedagogia construtivista que promove o aprendizado através de indagações para engajar os alunos com questões e conflitos que sejam reais e relevantes em suas vidas) é outra forma de trabalhar o conteúdo. Um bom exemplo onde exploramos amplamente essa abordagem é o UX Overtake online, onde a proposta é incentivar uma transformação pessoal ao relacionar novos conhecimentos com desafios e projetos do contexto individual dos participantes, trazendo assim mais significado ao aprendizado.

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Mindset do Project Based Learning

Em todo treinamento, workshop ou aula a preocupação em entregar uma experiência WOW utilizando os pilares do design thinking é uma forma extremamente eficaz de potencializar a eficácia e a absorção dos conteúdos.

Abordagens ativas na educação

Foi-se o tempo em o professor / facilitador era o único detentor do conhecimento. Ainda que esse modelo esteja presente em alguns modelos de educação infantil, certamente quando falamos de adultos a dinâmica e expectativas são outras.

Na construção do core de treinamentos centrados no usuário, aspectos da andragogia (educação para adultos) ligados ao “aprender fazendo” e à troca horizontal entre os participantes acabam por gerar muito mais identificação com o conteúdo onde o participante consegue encontrar uma utilidade real daquilo que está aprendendo. Além disso nesses casos a magia da co-criação do conhecimento coletivo acontece de forma natural.

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Os métodos de aprendizado ativo – alunos como protagonistas do seu aprendizado – são excelentes para reduzir o risco de impessoalidade e passividade de um treinamento remoto, principalmente quando pensamos em um EAD tradicional onde o aluno apenas assiste vídeos passivamente. Os formatos para a aplicação desse tipo de método são diversos e aqui novamente pode-se utilizar a criatividade a partir do entendimento da tríade usuário+contexto+conteúdo para ampliar as possibilidades de interação.

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Dicas práticas para melhorar a experiência do treinamento online

Para fechar o post, deixamos aqui algumas dicas vivenciadas, testadas e aprovadas para que você possa aumentar o engajamento e satisfação de seus treinamentos online:

0. Conheça sua audiência, levante informações sobre seu perfil e suas expectativas previamente

1. Adapte seu conteúdo para torná-lo mais leve e objetivo

2. Preveja quebras constantes no conteúdo teórico, faça variações, dinâmicas, discussões, mantenha as coisas em movimento

3. Promova interação entre os participantes para potencializar as trocas reais sobre problemas reais

4. Utilize ferramentas que deem suporte e flexibilidade para abrir grupos e subgrupos dentro da turma (o Zoom e o Blackboard possuem essas funções)

5. Use e abuse ferramentas de co-criação compartilhada em tempo real como Miro, Google Docs, Figma

6. Trabalhe com desafios ou projetos que consiga aproveitar problemas reais dos participantes sempre que possível

7. Promova trocas de cadeira entre participantes de diferentes grupos para aumentar o networking e manter as equipes eletrizadas com os visitantes externos durante atividades

8. Use ou crie canvas e frameworks para facilitar as instruções durante atividades práticas, já que você não estará tão perto para tirar dúvidas que surgirem

9. Defina tempos e use um timer para as atividades, isso mantem o clima dinâmico e as pessoas focadas (o Miro possui dentro de seus boards um timer que aparece para todos que estão trabalhando nele)

Dica extra de utilidade pública

Para explorar formatos de dinâmicas e quebra gelo, alguns sites fizeram o excelente trabalho de reunir diversas técnicas. Muitas delas foram pensadas no presencial, mas para boa parte delas nada que uma boa adaptação não resolva:

Esse case foi acompanhado e relatado por:

    UX Strategist, palestrante, facilitadora e mentora com mais de 15 anos de experiência em UX.

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Como melhorar a experiência de treinamentos remotos

12 ago 2020

7  Min Leitura

 

 

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