Você certamente já ouviu a máxima que diz que “conquistar um novo cliente custa entre 5 e 7 vezes mais do que manter um atual” (atribuída a Philip Kotler). A discussão desse artigo vem para conectar conceitos de LTV e UX como uma eficiente estratégia de encantamento, upsell e retenção de clientes. Se toda empresa precisa crescer, dominar o mix de abordagens e conceitos que ajudam a atingir esse objetivo é crucial para vencer os desafios do “furos no balde” típico de produtos SAAS (garantir que o churn seja significantemente menor do que as novas conversões).
Já falamos nesse post sobre “Growth UX” e ciclo de vida do produto e agora vamos refletir sobre como o UX design pode impactar de forma intencional o lifetime value de seus clientes, e assim, potencializar seus resultados de negócio.
Entendendo o LTV e sua relação com o CAC e o churn
Mas o que quer dizer essa métrica tão importante para os produtos que impacta diretamente a lucratividade de uma empresa SAAS?
Seu significado é relativamente fácil de entender:
Nesta equação temos dois pontos importantes: o ticket médio desse cliente e seu tempo de permanência. Quando associamos o LTV ao CAC (custo de aquisição do cliente), ela se torna ainda mais relevante, já que de forma geral não é saudável GASTAR MAIS para trazer um cliente do que ele traz de RETORNO para o seu negócio.
Então vamos imaginar que você tem dois perfis de cliente, conforme mostra a imagem abaixo.
Na parte superior do funil (antes de fechar a venda) você tem os steps associados ao CAC (custos de aquisição) que corresponde aos seus investimentos para trazer esse lead até o momento de compra do seu produto (passando pelas etapas clássicas de atração, nutrição e conversão que envolvem marketing e vendas).
A parte inferior podemos associar à venda recorrente com os steps de recompra, upsell e a continuidade do relacionamento com o cliente como um todo, onde calculamos o “lifetime value” – nosso indicador sobre quanto de receita entrou para a empresa até o momento do “churn” (cancelamento do cliente).
Comparando o caso da esquerda x direita conseguimos observar a diferença na relação equilibrada x não equilibrada entre o CAC e LTV. O perfil da direita onde o cliente dá o churn logo após a compra, temos um cenário negativo por não ter sequer chegado ao momento do “payback” (ou o breakeven) do investimento feito na sua captação e conversão.
Agora, se entendemos essa relação essencial de RETENÇÃO do cliente, e consequente aumento do LTV, como algo fundamental para obter resultados positivos de negócios e um crescimento saudável, como o UX pode ajudar nessa missão?
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A visão de UX para aumentar o LTV
Toda a jornada do cliente pré e pós venda pode – e deve – ser pensada com as lentes da experiência do usuário (associada aos outros pilares fundamentais de negócios e tecnologia).
O processo do design (sendo UX, CX, Service Design ou o que preferir chamar) consegue apoiar desde o entendimento das dores, definição da proposta de valor e visão do produto no product discovery e product market fit, até a outra ponta no delivery do produto para evitar um churn.
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Tomando o “UX design” como disciplina que atua na construção do produto e das interfaces digitais, alguns aspectos que podem impactar o aumento da retenção e do LTV:
- A DOR CERTA: Apoiar com artefatos e argumentos de venda que batem direto na dor certa e que assim facilitam a conversão (nada como o usuário conseguir visualizar de forma tangível a solução para todos os seus problemas em uma demonstração e venda que “super entende a sua dor”);
- ONBOARDING: Evidenciar rapidamente a proposta de valor e as funcionalidades chave nos primeiros contatos do usuário com produto em um onboarding que reduz sua curva de aprendizado;
- ENGAJAMENTO: Explorar elementos de engajamento nas interfaces que contribuam para uma fluidez e intuitividade no fluxo de navegação, criando gatilhos positivos de engajamento;
- JORNADA ENCANTADORA: Conhecer de perto a jornada do usuário para saber quais são os pontos mais críticos e oportunidades para surpreender, encantar ou ser efetivo;
- MÉTRICAS DE UX: Acompanhar as métricas de UX que ajudarão a antever problema e padrões de comportamentos e assim evitar o indesejado churn.
Analisando segmentações a partir do LTV
Um outro excelente uso do LTV é entender de forma quantitativa quem e quantos são hoje os perfis de clientes mais quentes da sua base 🔥 e com isso bolar planos de ação como:
- Dar um cuidado especial aos seus clientes de ICPs e LTV mais altos, recompensar de alguma forma essa lealdade e avançar nesse relacionamento positivo
- Identificar características, gatilhos e necessidades que funcionam nos bons cenários (LTV alto) para levantar insights de produto, marketing e vendas
- Ter clareza sobre os clientes que entregam menor valor para o negócio e entender quais oportunidades existem ali para evoluir esse quadro
- Tomar decisões importantes sobre o custo benefício (olho no CAC x LTV) e ocasionalmente criar estratégias de spin offs ou até descontinuar algum tipo não lucrativo de solução ofertada ou perfil de cliente atendido
- Identificar aspectos que fazem um grupo migrar de um estágio para outro e transformar isso em uma ação consciente (gatilhos eficientes que geram um upsell ou garantem uma retenção, o céu e a criatividade são o limite aqui…)
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Um conhecimento interessante bastante utilizado no contexto de marketing e vendas sobre LTV é a distribuição baseada na regra 20-60-20, conforme mostra a imagem abaixo:
Aqui sabemos que existe uma média (baseada num fenômeno estatístico empírico) que representa o agrupamento provável dos diferentes tipos de cliente de uma base, entre os mais e menos ativos e lucrativos.
Pode-se dessa forma observar:
- Como está a proporção atual dos LTVs da sua base?
- Estão dentro do mínimo esperado?
- Se não, o que está sendo feito de errado para isso acontecer?
- Quais peças precisamos mover na estratégia de produto?
Conectando métricas de negócio com UX
Para produtos SAAS data driven ou áreas maduras que têm contato direto com métricas de negócio, de marketing e vendas, a análise cohort é uma excelente ferramenta para observar o comportamento de diferentes grupos e identificar, por exemplo, em que momento o churn tende a ocorrer.
Uma breve explicação sobre o funcionamento da a análise cohort, exemplificada no esquema abaixo:
Cada linha = diferentes grupos de clientes que entraram no produto em diferentes períodos (e que podem estar agrupados também por diferentes características, ex: canal de aquisição, ICP, etc).
Cada coluna = porcentagem de clientes dos grupos por linha que seguem retidos mês a mês (ex: grupo1 fecha JAN com 95%, FEV cai para 90%, MAR para 75%, ABR 20% dos usuários iniciais, e assim o churn segue fazendo a métrica chorar 😭).
Análise cruzada = analisando cada coluna podemos buscar o mês onde o churn acontece em boa parte dos grupos OU ainda agir em grupos específicos quando percebemos seguidas baixas significativas.
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Sendo o churn o maior inimigo do lifetime value, esse dado nos ajuda a identificar os problemas e falhas da jornada do cliente de forma quantitativa: “o que” e “quando”, mas não o “porque” dessa taxa de abandono.
Nessa hora que entramos com a abordagem do UX ou CX! Uma vez identificado que existe um problema, precisamos chegar à raiz e motivação dele.
Um primeiro passo natural aqui é investigar os usuários que estão saindo, entender suas razões. Essa iniciativa pode facilmente ser feita em conjunto entre product design e customer success para identificar problemas e oportunidades diversas.
Rodar uma pesquisa de NPS pode ser uma ideia aqui também e instalar recursos de feedback no próprio produto (o Hotjar tem um recurso interessante de feedback contextual).
Reflexões finais
Falamos muito sobre a conexão cada vez mais frequente entre o UX design e a visão de negócios, sobre o “posicionamento estratégico”, sobre o UX strategy apoiando a construção de produtos melhores. Mas pode-se muitas vezes se perguntar: o que significa isso na prática, no dia a dia do time de produto?
Extrapolar os “silos” de atuação e buscar dados, conhecimentos e trocas de informação para levantar insights sem dúvida é um exemploAplicar a visão sistêmica para entender o encadeamento entre as partes de um sistema com muitas engrenagens e conseguir gerar soluções que consideram essas variáveis é outro
E aí, está pronto para essa jornada? 🤩
Esse case foi acompanhado e relatado por:
UX Strategist, palestrante, facilitadora e mentora com mais de 15 anos de experiência em UX.