O tempo onde o designer tinha que se preocupar apenas com desenhar telas bonitas, felizmente, vem ficando para trás na maioria das empresas e instituições que já entenderam o grande potencial desse profissional. Além disso, as novas tecnologias, incluindo a tão falada internet das coisas, chatbots passam a tornar acessível uma série de novas possibilidades de soluções nunca vistas ou utilizadas antes pelos consumidores e usuários.
Nesse cenário, o designer com seu background fundamentado em pilares como empatia, psicologia, criatividade e resolução de problemas passa a desempenhar um papel extremamente estratégico dentro das empresas – Como sabemos que é difícil encontrar um bom profissional de UX, temos esse post para te ajudar!
Um importante ponto a se considerar é que com os novos produtos tecnológicos e novos padrões surge todo um universo de interações diferenciadas que muitas vezes refletirão em curvas de aprendizado, mais ou menos complexas, e que requerem todo um cuidado especial em termos de usabilidade. Imaginem vocês um usuário idoso tendo que se virar com wearables, um smartwatch por exemplo, e ter que aprender a se relacionar e “controlar” esse produto com uma série de particularidades que não fazem parte de seu modelo mental ou produtos do dia a dia, o desafio pode ser significante em alguns casos.
Interfaces e interações naturais
Apesar disso, sabemos que as tendências levam às soluções a caminhos onde os comandos são muito mais naturais e inerentes à natureza humana. O esquema abaixo mostra um pouco dessa nossa evolução dos comandos que vieram desde o “command line interface”, nada focado no usuário onde este era obrigado a falar a “língua das máquinas”, até as respectivas evoluções passando pelo “graphical user interface” e o “natural user interface” onde nos encontramos atualmente em plena evolução, explorando possibilidades ligadas também aos comandos de voz e a própria antecipação que leva à “interface zero”.
O fato da internet das coisas já pré-supor que não estamos exclusivamente falando de “computadores” ou “telas” e “cliques” mas sim de objetos e “coisas” já nos aproxima bem mais da ideia do que é natural ao ser humano em seu dia a dia, com a diferença de termos um considerável “upgrade” com do fato dessas coisas estarem conectadas e integradas entre si de forma muito mais inteligente para servir à nossas necessidades.
“Internet das coisas é um conceito tecnológico em que todos os objetos da vida cotidiana estariam conectados à internet, agindo de modo inteligente e sensorial.”
Potenciais barreiras das boas experiências no IoT
Como toda nova tecnologia os desafios de “onboarding” ou entendimento inicial e engajamento no uso do produto sempre são possíveis problemas a se lidar. No contexto da internet das coisas essa barreira encontra alguns problemas potenciais extras inerente à natureza desse tipo de solução (até agora). Alguns pontos a serem observados:
1. Problemas de conectividade e instabilidade das redes
Principalmente considerando que estamos falando ainda de uma conexão na “realidade Brasil”, lidar com sinal de rede fraco, intermitente ou simplesmente indisponível pode ser uma preocupação bastante recorrente em produtos que tem sua base na conexão e redes de internet.
Quando interagimos com produtos físicos não estamos acostumados a precisar esperar o carregamento para ter um feedback ou um retorno a partir de uma ação, nosso modelo mental nos faz pensar de forma quase automática, diferente de um sistema ou um site que é “relativamente” aceitável esperar um carregamento ou um “processando”.
2. Múltiplas interfaces e comandos a cada produto diferente
Diferente de pensar na experiência dos dispositivos digitais típicos como computadores, smartphones, tablets ou até painéis interativos, quando falamos de “coisas”, praticamente “vale tudo”.
Ainda não temos muitos padrões consolidados, cada dispositivo pode reagir ao seu próprio tipo de comando e ter uma área de input particular, mesmo quando temos vários produtos integrados. Mesmo que meu carro esteja conectado e consiga tocar meu Spotify por lá, quando eu for pedir para minha geladeira abrir esse mesmo app o caminho e comandos podem ser totalmente diferentes. Ainda não temos um controlador geral (e nem sei se necessariamente deveríamos ter) ou uma linha coerente e padronizada entre os comandos dos meus diferentes produtos mesmo estando eles cada vez mais conectados entre si.
3. Necessidade de comandos precisos e específicos
Outra dificuldade do UX na internet das coisas é que por mais natural que tende a ser os comandos desses produtos, a maior parte deles ainda requer uma certa especificidade para entender o que eu quero que ele faça. Apesar de estarmos falando de objetos que muitas vezes são conhecidos em nossa vida no mundo físico, diferente das interfaces digitais e online cheias de cliques, botões e características que tivemos que 100% aprender e interpretar, a forma de se comunicar com estes artefatos ainda requer um alinhamento mínimo entre as partes.
Os comandos de voz são ótimos exemplos disso, agora que posso “falar” com meu celular ou com minha caixa de som para que ela reproduza as notícias do dia para mim, supostamente tudo seria apenas alegria, afinal já sabemos falar há bastante tempo 😛 A realidade entretanto é um pouco menos colorida e dependente da tonalidade e palavras certas. Quem nunca se estressou testando comandos de voz quando ouve o irritante feedback da moça dizendo que “não te entendeu” ou até sugerindo que por isso deveríamos “conversar mais tarde” :O
Os comandos gestuais também ainda pedem gestos específicos, se você não está fazendo conforme a programação espera que você faça, é possível que você passe por certo desconforto até que sua ação seja entendida e efetivada.
4. Geralmente ações do mundo físico não pode ser “desfeitas”
Já aprendemos ao longo de nossas digi-experiências que um Ctrl+Z, um “desfazer” ou um “cancelar” podem fazer grande diferença entre um simples erro e um desastre catastrófico. No mundo físico isso acaba sendo mais complicado pois nem todas as ações são “desfazíveis”. Não esperamos que seja possível desfazer um copo que cai no chão e se quebra assim como uma porta que se abre após o comando de uma chave remota não poderia voltar no tempo e “desabrir”(mesmo que isso significasse um equívoco e você estivesse deixando uma visita indesejada acessar sua casa).
Outro ponto é que muitas soluções de IoT são remotamente controladas ou automaticamente disparadas (a partir de sensores, por exemplo) e isso acaba refletindo em uma perda de controle e quebra da ideia imediata de ação X consequências visíveis e reversíveis à qual nos acostumamos dos produtos físicos.
Bons exemplos de projetos de internet das coisas + UX
Aqui uma seleção de alguns produtos que já estão rolando na vibe IoT e que entregam soluções interessantes. A medida que formos conhecendo e vendo mais produtos conectados mais fácil se torna ter novas ideias a partir disso, por isso vale conhecer o máximo possível sobre o que tem saído por aí.
Amazon Dash
Gadget que escaneia códigos de barras, para comprar os produtos que acabaram, como pasta de dente e comidas
Birdi
Detector de fumaça integrado com aplicativo, que avisa no seu celular quando tem algo de errado em sua casa
Amazon Echo
Central para controlar todos os seus dispositivos de Internet das coisas por comandos de voz
Tagg
Rastreia o seu pet por GPS, e te mostra os dados no PC ou no mobile
Cloudwash
Máquina de lavar comandada por app de celular
Neo
Pote inteligente, que controla sua quantidade de cereais
Canary
Utiliza machine learning e cruza dados de vibrações no ar, som e imagens da câmera pra entender se algo estranho está acontecendo na sua casa
Blossom
Cria um padrão de irrigação para o seu jardim, baseado na sua localização, clima e outros dados
Ankuoo
Plug inteligente para tomadas, que te permitem contar a energia gasta em cada equipamento, e desligar a corrente dos eletrodomésticos
Lifx
Iluminação conectada ao celular onde você controla cor, intensidade e jogos de luzes
E os próximos passos?
Fato que projetar e pensar na experiência do usuário em produtos do mundo físico muito se assemelha ao “design de produto” mas com uma camada extra de complexidade já que você não tem que se preocupar apenas com o que acontece “ali e agora” e sim com toda uma rede e integrações e possibilidades de automações. O desafio é bem maior, assim como as possibilidades de aplicar a criatividade e visualizar conexões não óbvias a partir das necessidades e dores dos usuários (o que acho particularmente fascinante :)).
Os autores afirmam que quando estamos falando de projetar para internet das coisas, muito precisa ser considerado, e não apenas as camadas “óbvias” que estamos acostumados em uma interface web visível, trata-se de uma interação que engloba outros elementos tecnológicos e estratégicos.
“Projetar um ótimo produto conectado requer uma abordagem holística de experiência de usuário. Abrange muitas camadas de design, nem todas elas imediatamente visível. Mais do que nunca, exige uma colaboração e trabalho entre design, tecnologia e negócios.”
Existe um livro específico sobre essa relação entre IoT e UX, o “User Experience Design for the Internet of Things” (é possível baixar o ebook gratuito no link) e outros materiais online saindo por aí que vale dar uma conferida.
Para gerar melhores soluções precisaremos necessariamente entender as possibilidades tecnológicas dos sensores, dispositivos, produtos e a partir disso usar como matéria prima esse conhecimento para gerar ideias que atinjam todo o potencial das soluções existentes. Designers e UXrs não vindos da área técnica inevitavelmente precisarão dar uma imergida nessa questão mais “hardware” da coisa para conseguir ter as sacadas além do estudo das interações e novos padrões, convenções e affordances que viabilizarão o uso desse tipo de artefato interativo pelos usuários que ainda tem um longo caminho de aprendizagem pela frente.
Muitos paradigmas e padrões ainda virão a ser quebrados ou reinventados, fica a ressalva que um bom projeto de UX, sendo produto ou web, sempre começa pela validação. Abaixo fica a dica do nosso último webinar que dá boas dicas sobre como usar o design thinking para ajudar nessa empreitada. Confira:
Esse case foi acompanhado e relatado por:
UX Strategist, palestrante, facilitadora e mentora com mais de 15 anos de experiência em UX.