Olhando para a estante

Sim, o conteúdo importa mais que a embalagem. Essa é a lei. Mas que a aparência externa tem grande importância, disso ninguém pode negar. Desde o momento de comer, em que primeiro degustamos com os olhos, até a escolha de uma roupa nas prateleiras da loja, a impressão inicial, aquela expressão visceral, exerce grande influência sobre nós.

A minha própria experiência com a leitura já me fez comprar obras puramente com interesse na beleza exterior, no projeto gráfico. Nem sempre a obra surpreende tanto quanto aparenta, é claro, mas a verdade é que quando casada com um excelente conteúdo, uma capa maravilhosa faz da experiência de uso e leitura do livro algo muito positivo.

Uma boa capa dá pistas daquilo que está por vir nas linhas do livro e instiga a curiosidade para os personagens e a trama escondidos sob o título da obra. Nenhum livro é tão bom que não possa ficar mais interessante e experiencialmente rico com uma embalagem bem projetada, amarrada ao seu conteúdo. A capa é quem fica exposta na prateleira de casa e, no caso de obras pouco conhecidas, é quem ampara todas as críticas e as primeiras impressões dos leitores em potencial.

Capas do coração

The Opposite House

Chega a dar vertigem? Sim. E é aí que uma ideia simples como essa ganha valor. A capa chama a atenção justamente por aproveitar o título e lançar mão de um recurso simples e certeiro: a imagem de cabeça para baixo. Parece que em qualquer momento as coisas virão abaixo ou que o mundo está prestes a cair. E a intenção é essa mesmo.

Moby Dick

O romance sobre a baleia monstruosa de Melville ganha vida numa capa que literalmente nos inunda com a água do mar. A representação da baleia é dada pela própria tipografia, enquanto a água, completamente estilizada, é leve como espuma, mas cobre o suficiente para mostrar que com o mamífero da história não se brinca.

A Saga Crepúsculo

A despeito de não agradar a gregos e troianos, a quadrilogia vampiresca de Meyer é brindada com capas elegantes e sedutoras. A linha-mestra são os detalhes em vermelho vibrante, remetendo, logicamente, ao sangue tão adorado pelas criaturas de pele brilhante. É preciso pouco para perceber que se trata de uma trama de amor dramático e clássico. A simplicidade salta aos olhos.

A Saga Harry Potter

A magia está em todos cantos nas capas da coleção Harry Potter. Observar os riquíssimos detalhes das ilustrações que envolvem cada número é uma deliciosa tarefa e que surpreende todas as vezes. A preciosidade das capas de Harry Potter está na força das representações das cenas e personagens em cores tão luminosas quanto os encantos de Hogwarts.

As Esganadas

A capa de As Esganadas é cômica como a narrativa da obra. Um serial-killer obcecado por mulheres gordas está solto pela cidade e suas manobras sofisticadas e “doces” ficam claras na paleta de cores enxuta, mas primaveril, do título.

The Curious Case of Benjamin Button

Menos é mais. Um jogo de sombras, poucas cores e mínimos detalhes e estamos diante de uma bela síntese do romance de F. Scott Fitzgerald. Benjamin Button é um homem que nasce velho e rejuvenesce à medida que vai envelhecendo. Um caso tão curioso não podia ter uma capa menos curiosa.

1984

A obra máxima de George Orwell recebe aqui uma capa à altura. Olhos para todos os lados, vigiando cada passo num cenário desolado e triste. O governo totalitário imaginado pelo autor vira tema para uma composição caótica e um pouco assombrosa, seguindo o espírito da narrativa.